Análise do espaço escolhido na Casa da Glória a partir dos conceitos de Hertzberger
A sala do IGC foi o espaço escolhido pelo meu grupo para uma intervenção na Casa da Glória em Diamantina. A sala possui grande dimensão comparada aos outros cômodos da casa e atualmente funciona como sala de estudos, mesmo possuindo resquícios do que era no passado: o confessionário ainda permanece no local e há um mezanino que abrigava o coral da antiga capela. Como é um edifício tombado, não mexemos na estrutura e nossa intenção foi manter a função de sala de estudos preservando a história, ou seja, abrindo esse espaço também para uma exposição.
O lugar por si só já é convidativo. Conversa com seu exterior, uma vez que possui 10 janelas laterais, 4 frontais e 2 portas que dão para uma pequena varanda, todas ornadas com vidro, o que permite a incidência de luz natural e a vista para a Serra do Espinhaço. Posicionamos expositores no centro da sala, mantendo graus de abertura ao seu redor, que chamam a atenção logo na entrada, esses conteriam informações sobre a cidade e na sua frente, colocamos uma estrutura de mural abrangendo o confessionário (Fig. 1). Toda a disposição foi colocada de maneira que sua organização fosse suficientemente funcional, separadas por setores, mas que seguisse uma articulação e não houvesse uma grande quebra sequencial.
Conciliar a urdidura e a trama, no caso como as pessoas irão usar a sala foi um desafio. Com a impossibilidade de mexer nas bases estruturais e o objetivo de manter as novas funções ornando com elas, a colocação das estruturas móveis em bases e molduras inspiradas nas cores e nos pilares de sustentação do mezanino foi uma saída. Complementamos com exposições interativas que também são auxiliares aos estudos dos pesquisadores, misturando o novo ao antigo, o tecnológico e o manual, colocando os utilizadores em protagonismo em como dispor o ambiente. Setorizar as áreas, sem isolá-las, foi também uma saída ás informações pensadas: a cidade de Diamantina, a Casa da Glória inserida nesse contexto e a história daquela sala sendo organicamente compostas à função geográfica da sala de estudos.
Priorizamos a colocação de objetos que fossem funcionais para ambas as interações, sejam elas educacionais ou expositivas. O expositor central se divide em 4 partes realocáveis: duas são suportes de banners apresentando a especificidade de conter informações sejam elas escritas ou em imagens; uma possui prateleiras polivalentes, são plurais em relação à função que vão desempenhar de acordo com o uso da liberdade de quem irá utiliza-las; já a parte que possui uma tela interativa é flexível, giraria 360º e em seu lado oposto possui uma lousa branca. As mesas ao fundo, simulando curvas de nível em suas bases, também podem ser realocadas da maneira necessária aos estudantes e turistas (Fig. 3).
As irregularidades de um edifício datado de 1800 são notórias, o chão e o teto são desnivelados, janelas e portas fabricadas artesanalmente possuem suas assimetrias. Tudo que gera ainda mais o clima histórico da casa. Sob o mezanino foi necessária a colocação de pilares de sustentação, de onde extraímos a ideia desses, transformando-os em suporte de expositores (Fig. 4). Utilizando de seu parapeito de madeira, apoiamos uma placa de vidro que conteria uma simulação, sendo assim, precisávamos de outro objeto que posicionasse o visitante: uma mesa com informações que coloca o indivíduo longe e posicionado o suficiente para ter a ilusão de ótica de como seria a sala antigamente. Ele também possui dois níveis que atendiam as funções de um coro, utilizamos isso para a colocação de caixas de sons embutidas no degrau, de forma que a acústica também convidasse a pessoa a se sentar nos colchonetes posicionados na parte mais elevada, articulando com a vista da serra (Fig. 5).
Sobre o público e o privado e demarcações territoriais: a Casa da Glória tornou-se ponto turístico de Diamantina, hoje além de abrigar pesquisas geográficas e alojar estudantes, ainda abriga a história do edifício, onde visitantes podem entrar e conhecer grande parte de suas dependências que também são equipadas para tal fim. Pendendo entre o público e o privado, a sala escolhida geralmente fica aberta para visitações mesmo com a função de estudos, mas como ainda possuía poucos resquícios de história, os visitantes pouco permaneciam. Uma vez que se situa no 2º andar do prédio, as janelas apenas se abrem para o exterior, sendo difícil para quem está na rua ter uma visão interna. A maioria das portas também são ornadas com aberturas de vidro que delimitam o acesso, mas que permitem a visão (Fig. 6). Já o passadiço foi construído ao longo do tempo, onde surgiu a necessidade de integrar as duas construções de forma privada para as freiras. Com a nossa intervenção, quisemos chamar a atenção de quem busca informações além do passadiço e ainda manter a privacidade de quem ali irá estudar. As mesas foram realocadas para o fim da sala, no canto mais longe da porta de entrada, gradativamente permanecendo solícitas aos visitantes que queiram utilizar, mas mantendo-se longe o suficiente da maior movimentação.